Monge ou monja, são pessoas religiosas que vivem em forma comunitária em um mosteiro, sua rotina gira em torno de trabalhos e orações, são pessoas que são devotas a vida recolhida, que fazem parte de alguma de diversas religiões do planeta, sendo Budismo, Jainísmo, Taoísmo, Lamaísmo e Cristianismo.
Agora que já sabemos o que são monges e temos uma base de como eles vivem, vamos entrar no assunto da publicação, mais uma lenda real, a lenda do Profeta Monge São João Maria.

Como já falado anteriormente, já mencionei que lenda é uma história passada de geração para geração, e nessa repassagem de histórias acaba que cada local a lenda chega de uma forma, as vezes aumenta um ponto, ou como neste caso some alguns pontos.
Pois, ao se falar na lenda Profeta Monge São João Maria, primeiramente vem a mente apenas um personagem, onde um único homem seria um grande profeta, mensageiro do bem, benzedor, que trabalhava com medicina natural, ervas medicinais para curas de doenças, pastas para feridas e tudo mais.
Porém, não, não era apenas um homem, foram três homens, que viveram em épocas diferentes, e circulavam por regiões diferentes, e cada um teve sua importância e influência na história que deu origem a lenda, assim vamos conhecer os personagens desta história.

Tudo começou com o primeiro monge João Maria de Agostini, o qual seu nome original era Giovanni Maria de Agostini, nascido em julho de 1801, em Sizzano, batizado na cidade de Novara, região do Piemonte, Itália, de origem italiano, ainda jovem iniciou os estudos em um colégio franciscano, com o intuito de se tornar padre.
Por volta de 1820, declarou ter tido uma visão da Nossa Senhora, que o teria aconselhado a pregar a palavra de Deus, mundo afora, como um eremita, assim abandonou as atividades eclesiásticas e iniciou sua peregrinação pela Europa.
Começou sua peregrinação para o continente americano em 1838, tendo inicialmente desembarcando na cidade de Caracas, Venezuela, após passou por Equador, Colômbia e Peru. Entre 1839 e 1841, habitou montanha próxima à cidade de Motupe. Ali deixou uma Cruz que, anos mais tarde, tornou-se centro de romarias. Em 1868, os habitantes de Motupe deram início à devoção a Santíssima Cruz de Motupe, o que até hoje uma das festas religiosas mais conhecidas de todo o Peru.
Após isso, entrou pela Amazônia peruana, cruzou de barco, e longas caminhadas pela mata até chegar a Belém, no Pará, Brasil, no início de 1844. Continuou sua jornada até Rio de Janeiro, que era a capital do Império brasileiro, chegando ali em agosto de 1844. No dia 24 de dezembro de 1844 chegou a Sorocaba, São Paulo, apresentou-se para o escrivão local que registrou sua chegada. Entre vários detalhes mencionados, um dos mais identificadores que o escrivão relatou, era que Agostini tinha uma deficiência física em três dedos da mão esquerda.

Após sua passagem pelo sudeste seguiu para o sul do país, atravessando o que então era conhecido como Planalto Meridional brasileiro se instalando no estado do Rio Grande do Sul, onde viveu entre os anos de 1845 e 1848, em Candelária, no morro do Botucaraí, e Santa Maria.
Trazendo consigo o culto de Santo Antão para a região, santo esse que é considerado o “pai de todos os monges”, e a festa continua até os dias atuais, comemorada em 17 de janeiro.
Em outubro de 1848 foi ordenado sua prisão, pelo General Francisco José de Sousa Soares de Andrea, também chamado de Barão de Caçapava, com rumores de levantes e concentrações populares que começavam a ser comuns naquela região.
Foi exilado do estado, ficando proibido de voltar ao Rio Grande do Sul. Refugiou-se em Santa Catarina na Ilha do Arvoredo, depois seguiu para Lapa no Paraná, onde depois ficou conhecido como a serra do Monge, retornando após para Lages em Santa Catarina.
Por fim, retornou ao Rio Grande do Sul, em dezembro do ano de 1851, passando pela fronteira do estado, estando em São Borja onde foi convidado para fazer o sermão de Natal, foi mandado embora da igreja e da cidade, por conta de ter realizado um discurso considerado agressivo, pelos habitantes do município naquela época, discurso esse que condenava, principalmente, a prática da escravidão e aprisionamento de crianças indígenas pelas elites locais.
Depois do ocorrido, decidiu seguir seu caminho para outras regiões do estado, cruzando a então província de São Pedro, até chegar em Porto Alegre no início do ano de 1852, mesmo tendo sido exilado e proibido de retornar ao Rio Grande do Sul.
Estava procurando conseguir passaporte para o Paraguai. O governo concedeu o passaporte, mas avisou ao monge que ele tinha 30 dias para sair da província, caso contrário, seria novamente preso e então deportado.
Após deixar o Brasil em 1852, depois de viver no Monte Palma, às margens do rio Uruguai, na hoje Província de Misiones, passou por Buenos Aires, pelos pampas argentinos, habitou uma caverna próxima à cidade de Mendoza, enquanto se preparava para atravessar a Cordilheira dos Andes.
Em 1854 estava no Chile, onde ficou até 1857 em uma gruta nos desertos de La Serena. Durante esse tempo, traduziu uma Bíblia do Latim para o espanhol, em seguida foi para a Bolívia onde passou por uma nova prisão, mas dias depois foi solto e seguiu para o Lago Titicaca, indo até o litoral peruano e chegando a Arequipa.
De barco foi até a América do Norte, chegando ao México em 1859. Se instalou em uma caverna em uma das montanhas mais altas do México, denominada Orizaba. Neste momento começou a atrair um número muito grande de devotos. O que levou a uma terceira prisão pelas autoridades de Puebla, por sua influência junto ao povo.
Semanas depois foi deportado, do porto de Vera Cruz, embarcou para Havana, Cuba. Na capital cubana, foi recebido com certo entusiasmo pelos habitantes locais, onde um fotógrafo tirou seu retrato, o qual ficou conhecido como "A Maravilha do Nosso Século", a foto foi vendida como souvenir. inclusive Agostini carregou consigo uma destas fotografias.
De Cuba, Agostini foi até Nova York, mas seu destino seria a cidade de Quebec no Canadá, onde foi incompreendido e confundido com mendigo, com isso decidiu voltar para o Oeste dos Estados Unidos. Por fim, instalou-se no estado do Novo México, habitou inicialmente a montanha chamada Tecolote, depois teve seu nome alterado para Hermit's Peak.
Permaneceu ali de 1863 até 1867, depois seguiu para o sul, para a vila de Mesilla, aonde foi assassinado em abril de 1869, possivelmente por índios Apaches que estavam em guerra contra a ocupação branca de seu outrora território.
O corpo de João Maria de Agostini Foi encontrado morto por um grupo de moradores locais, em sua maioria ilustres proprietários rurais, que eram seus devotos, está enterrado no cemitério católico da cidade de Mesilla, distante 80 quilômetros da fronteira com o México.
Em sua lápide está a descrição "João Maria de Agostini. Eremita do Velho e do Novo Mundo. Morreu em 17 de abril de 1869, aos 69 anos e 49 anos como um eremita.", tradução literal da lápide original.

Agora que já conhecemos sua história, focaremos mais na sua passagem no nosso país, chegou ao Brasil no mês de maio de 1843, em Tabatinga, uma aldeia localizada na fronteira entre Brasil, Peru e Colômbia, em Sorocaba, que na época consistia o ponto final do Caminho de Tropas, que era um conjunto de rotas utilizadas pelos tropeiros, que transladavam gado desde o Rio Grande do Sul.
Então com essa ligação o italiano aproveitou isso e seguiu esse caminho e chegou ao município de Santa Maria (RS). Nesse período, como não era nada comum uma pessoa como ele surgir na região, o monge era sempre muito rodeado em busca de curas, principalmente as "águas santas" e orientação espiritual.
Ainda mais na época, que a população estava se recuperando de uma revolução, a Revolução Farroupilha, ou também conhecida como Guerra dos Farrapos, e da epidemia de varíola, todos estavam em busca de aconselhamentos, paz de espírito e milagres em meio ao caos que estava.
Justamente por toda a popularidade de Agostini, as autoridades prenderam ele, acusando ele de ser charlatão, um impostor, que prometia falsas curas, que era um falso religioso, pois não possuía o ordenamento correspondente.
Já em 1848, o monge desembarcou em Desterro, atual Florianópolis. Passando o tempo em 1849, João Maria já era reconhecido como um homem santo, e obteve refúgio na Ilha do Arvoredo, em Santa Catarina, após ser exilado da província de São Pedro na época, que hoje é o estado do Rio Grande do Sul.
Durante o período em que esteve na ilha, obteve atenção de pescadores da região, que também passaram a reconhecê-lo como um santo, tendo poderes curativos procedentes das "águas santas", com medo de ser preso de novo, solicitou ao governo de Santa Catarina permissão para partir da Ilha do Arvoredo, assim no mesmo ano de 1849, o então ministro da Justiça, Euzébio de Queiroz, concedeu o pedido.
A confirmação de que John Mary, falecido nos EUA, era o mesmo que peregrinou pelo Brasil, é comprovada pelos historiadores com base em diversos documentos, principalmente onde há registros da mesma forma que foi registrado em Sorocaba, mencionado anteriormente, onde o monge era descrito “aleijado de três dedos da mão esquerda”., o restante da sua história já sabemos.

O segundo monge foi João Maria de Jesus, o qual seu nome original acreditava-se ser Atanás Marcaf, seu sobrenome sugeria ser sírio, surgiu misteriosamente no ano de 1886 nos estados do Paraná e Santa Catarina, houve uma identificação com o primeiro, pois os dois usavam os mesmos métodos de aconselhamentos, água de fontes santas e também a cura com ervas naturais.
Em 1897, um registro traz o trecho dito por ele próprio: "Eu nasci no mar, criei-me em Buenos Aires e faz onze anos que tive um sonho, percebendo nele claramente que devia caminhar pelo mundo durante quatorze anos, sem comer carne nas quartas-feiras, sextas-feiras e sábados, sem pousar na casa de outros. Vi-o claramente."
E seu desaparecimento na região foi dado em 1900, o que não significa que seja a data de sua morte, pois em 1908 houve outro registro de aparição sua, e posteriormente há registros seus no Rio Grande do Sul.
A semelhança entre os dois primeiros monges, para o povo é tão grande que acreditavam que eram a mesma pessoa, tanto que um retrato da época descrevia "João Maria de Jesus, profeta com 188 anos."
João Maria de Jesus tem registros históricos datados a partir do ano de 1886, que indicam que viveu principalmente na região do planalto catarinense, sua presença física e espiritual influenciou muito os moradores da região na resistência contra as injustiças praticadas pelos governantes e pelas companhias estrangeiras que começaram a ser instaladas a partir de 1910.
Muitos movimentos sociais como a Guerra do Contestado (1912-1926) e movimentos como o movimento dos Alonsos (Timbó Grande - 1942), tiveram por base os ensinamentos do monge e o sentimento de não aceitar abusos dos governantes e autoridades da época.
Todos pregavam contra as crueldades da escravidão de negros e índios, pregavam contra a república, avisavam sobre futuras catástrofes que iriam ocorrer e o possível fim do mundo, davam remédios à base de ervas, benziam, batizavam e faziam todos os tipos de milagres.
Agora com o status de Santo, chega a Palmas, Clevelêndia, no ano de 1904 e sua caminhada rumava para a Argentina.
São João Maria andava devagar, fazendo trabalhos de auxílio aos abandonados, enfermos que não tinham nenhum recurso, com benzeduras, medicamentos naturais, curas com ervas e "águas santas", cada vez mais ficou conhecido como “santo“ andarilho, fazendo pequenos milagres por onde passava.
Do sudoeste do Paraná o monge entrou no oeste de Santa Catarina, percorrendo uma das Peabirú (estrada dos índios), João Maria chega a Campo Erê, na Linha Faxinal, onde dormiu em uma gruta e no dia seguinte surgiu uma mina de água que fazia milagres aos que bebessem.
Ficou aproximadamente durante seis meses percorrendo aquela terra e ajudando o povo que em sua maioria eram tarefeiros (trabalhadores da erva-mate), principal atividade daquela época na região.
O monge sempre se deslocava a pé, onde ele dormia seus devotos fincavam uma cruz em devoção a ele, suas rezas eram muito populares entre os caboclos, os quais carregavam orações escritas, como uma encontrada em um amuleto:
“Espada elética pertence a Antonio de Souza, nobre cavaleiro de São Sebastião em nome do Santo João Maria quem atira no meu corpo atira na
hóstia consagrada porque entre a pórvra (pólvora) e a espoleta Jesus Cristo fez morada”. Sachet. 2001.

João Maria, era adorado como santo, rezavam por ele, misturando crenças católicas e misticismo, tornou-se um santo para os caboclos.
Tempos mais tarde, em outra região, teve uma visão e disse: "vejo um grande dragão, que se estende sobre essa região, a cabeça está em San Pedro, o corpo sobre a região de Dionísio Cerqueira e a cauda em Clevelândia, toda a região onde se encontra o dragão não vai se desenvolver durante cem anos."
O que por acaso, ou não, San Pedro passando por Dionísio até Clevelândia em quase cem anos permaneceu sendo uma das regiões mais pobres do oeste catarinense, sudoeste do Paraná e leste da província de Misiones, Argentina.
Com isso ficou conhecido também como profeta, onde suas profecias, visões, sonhos acabavam ocorrendo, e não só isso, ele tinha o poder de abençoar ou amaldiçoar, como é mencionado em um acontecimento em Ponta Grossa no Paraná, onde ele foi recebido por pedradas, e o mesmo disse que as pedras que o acertavam iriam voltar, e no dia seguinte a cidade foi atingida por uma enorme chuva de granizo.
Em outro pronto em União da Vitória, cidade que fica na divisa entre Paraná e Santa Catarina, conhece-se a história da bica de água que ele havia abençoado e havia cravado uma cruz, e se essa cruz fosse removida dali grandes enchentes assolariam a cidade, o que acabou acontecendo realmente, e até hoje o município sofre com enormes enchentes.
Sua forma de vida era totalmente simples e desapegado de qualquer bem material, seu fogo era feito com grimpas, pois o mesmo dizia que um dia a humanidade teria a necessidade para respirar vindo da madeira e da mata, pois o ar puro não existiria mais e por isso ele preservava toda e qualquer árvore, galhos que pudessem brotar, para que a humanidade tivesse como respirar, e ensinava isso para seus seguidores.
Falava também "tenho pena das pessoas que virão atrás de nós, porque haverá muito rastro, e pouco pasto, linhas e burros pretos de ferro, carregarão o pessoal, uma estrada preta vai matar muita gente, gafanhotos de asas de ferro serão os mais perigosos, porque deitarão as cidades por terra."
Assim prevendo que anos mais tarde, haveriam muito desmatamento, plantações enormes, pouca mata nativa virgem, as estradas de ferro, os asfaltos que trouxeram muita facilidade para escoar a plantação, mas também trouxe muitas mortes com acidentes, e previu também os aviões, que posteriormente foram usados para guerras, levando bombas que destruíram cidades inteiras.
Em Lages em Santa Catarina, uma das cidades que tem um estreito laço com João Maria, tem a crença que a igreja Santa Cruz, tem a Santa Nossa Senhora dos Prazeres que está com os pés sobre a cabeça de uma serpente, a qual João Maria profetizou que se for retirada do local, a cidade será completamente inundada, e essa crença foi reforçada, quando uma vez o bispo da época retirou a Santa da igreja para que fosse restaurada, e choveu inundando a cidade, dessa forma colocaram a Santa de volta ao local e foi solucionado a questão.
Ao contrário do que aparece em muitos lugares, João Maria não se manteve apenas nos estados do Paraná e Santa Catarina, mas também esteve no estado do Rio Grande do Sul.
Até hoje muitos lugares ainda mantém viva a história de São João Maria, ainda tem protegido vários locais onde João Maria tinha seu pouso, os olhos de água que ele abençoou, suas cruzes cravadas, em várias regiões do estado.
Como por exemplo no município de Lagoa Vermelha, onde tem a lagoa abençoada por São João Maria, que ele abençoou para nunca mais secar, e realmente por maior que fosse a seca, as águas da lagoa nunca secaram, além de bicas de água em vários pontos que também nunca secaram, e as águas não secam e acreditam serem santas e com poder de cura, além de vários relatos de moradores que mencionavam suas benzeduras, ensinamento de utilização de ervas naturais e milagres.
Já em Soledade e Sobradinho até hoje existem monges seguidores de São João Maria, conhecidos como monges barbudos, na Revolução Constitucionalista de 1932 sofreram graves ataques por não serem aceitos, não serem compreendidos, acusados de serem farsantes, muitos foram assassinados, e essa perseguição não foi apenas na revolução, mas também pela brigada militar, que prendeu e torturou muitos destes monges, mas a fé permanece até os dias de hoje, se mantendo firme na crença popular.

Depoimentos de dois Pioneiros da Fronteira sobre o Monge, para uma entrevista realizada por João A. Mussini.
“Óia ele era meio a trote assim, e veio, já o carçado dele era uma paragata, tipo pargata. A ropa tinha, era ropa cumum assim, tinha barba e era morenasso. Óia quando ele teve em Faxinar, Campo Erê, ele dormiu num luga seco no utro dia amanheceu um oio d’água, tudo o pessoar levava água pra remédio...”, menciona um senhor que diz ter conhecido pessoalmente o monge.
Em outro momento o senhor Raul Silva Dico, de 90 anos de idade, residente em Bernardo de Irigoyen - Misiones - Argentina. também menciona ter conhecido João Maria:
"Si yo sentí hablar de un monje, San Juan Maria se llamaba, a el yo tenía como um santo el vino hasta acá en Argentina y de aquí volvió, volvió al Brasil, tuvo hasta Campo Ere y hay un lugar donde, donde el durmió en Campo Ere que dice, decía la gente cierto, donde el durmió había un lugar que brotaba el agua, una vertiente."
Ele ficou conhecido pela quantidade de bicas que tornou benta, ou santa conforme chamada em cada região, e até hoje são procuradas pelas pessoas em busca de milagres. Conhecido também por suas profecias, benzeduras, e curas com ervas naturais.
Seu desaparecimento é um mistério até os dias atuais, inicialmente acreditava-se que o mesmo havia desaparecido em 1908, porém há relatos de pessoas que conheceram João Maria por volta de 1913 no estado do Rio Grande do Sul, e até após isso.
Exatamente não se tem uma data confirmada de seu desaparecimento, e nem exatamente onde foi visto por último, então após suas andanças e permanecer algum tempo na fronteira do Brasil com a Argetina, João Maria rumou para San Pedro, na Argentina, onde foi relatado pela última vez uma aparição sua, e mencionada inclusive que sua meta era chegar ao Paraguai, após isso nunca mais foi visto e nem registrado uma aparição sua em qualquer outro lugar e muito menos sabe-se o ano exato que ocorreu isso.
Há lendas sobre o desaparecimento, de João Maria de Jesus, onde conta que ele terminou sua missão no morro do Taió em Santa Catarina, onde após jejuar por 48 horas, teria sido levado por dois anjos para o céu, em outra versão, seu corpo teria sido envolvido em uma luz tão forte que o fez desaparecer, deixando uma marca vermelha no chão, mas também há a hipótese que poderia ter morrido em Araraquara em São Paulo, e também que ele foi encontrado agonizando próximo aos trilhos da estrada de ferro em Ponta Grossa no Paraná.

O terceiro monge, mas não menos importante, surgiu em 1911, conhecido com o José Maria de Jesus, se apresentava como primo do segundo monge, mas na verdade seu nome real era Miguel Lucena de Boaventura, surgiu em Campos Novos em Santa Catarina.
Alguns historiadores dizem que ele foi um desertor da polícia do Paraná, exatamente por isso que ele possuía um fuzil. Ele foi um dos protagonistas da Guerra do Contestado, que aconteceu entre os anos de 1912 a 1916, José Maria juntou uma grande quantidade de caboclos, principalmente pessoas que foram prejudicads pela atuação de empresas que construiu a estrada de ferro Rio Grande – São Paulo.
Outros historiadores, apresentam que ele era um ex-militar, o que explicaria também ele ter uma arma, e de acordo com um laudo da polícia da Vila de Palmas no Paraná, ele foi um soldado desertor condenado por estupro.
Da mesma forma que os monges anteriores, ele utilizava os mesmos métodos de cura com ervas e benzeduras, mas a diferença dele para os demais, era que ao contrário de viver uma vida eremita, de isolamento, ele organizava agrupamentos, os quais chamava de “Quadros Santos”, que possuía uma vida própria, e outros chamados de “Pares de França”, uma guarda especial formada por 24 homens que o seguiam.
Além desses homens, haviam as virgens, que eram mulheres escolhidas por José Maria, para que o auxiliassem, nas pregações, nas benzeduras, nas produções de medicamentos com ervas naturais e outros trabalhos que eram feitos em curas ou milagres para os caboclos.

Na região onde ele estava acampando disputas por limites entre os estados de Santa Catarina e Paraná, ficou conhecido também por defender a ideia de querer a volta da monarquia, que era conta a república, e foi acusado por criticar o governo e foi ai que houve a intervenção do Governo de Santa Catarina.
O que foi uma afronta para o Governo do Paraná, que por sua vez enviou uma força militar para a região também.
A força militar paranaense chefiada pelo coronel João Gualberto Gomes de Sá, invadiu o acampamento “Quadro Santo”, no reduto Irani em Santa Catarina, onde durante um combate o monge José Maria e o coronel foram mortos, e isso foi o estopim para a Guerra do Contestado.
Com o desemprego cada vez maior, a insatisfação dos moradores da região, as constantes disputas de território dos estados, José Maria conseguiu juntas centenas de homens para uma luta que ele profetizava que iria acontecer, ainda mencionava que muitos iriam morrer na primeira batalha, mas após isso voltariam como exército de São Sebastião.
Tinham tão claro isso em suas mentes, que os mortos eram enterrados em covas rasas, de cerca de um palmo do chão, pois acreditavam que os que haviam sido mortos, iriam ressuscitar e voltar para as batalhas como um exército encantado.
Seu exército não era constituído apenas por homens, mas também mulheres guerreiras, principalmente as "virgens" Teodora e Maria Rosa, que eram amigas do monge, e comandaram o povo armado, com planos de ataque, ordenavam quando, onde e como seriam os ataques, eram respeitadas tudo por conta do espírito de liderança das mesmas, e a confiança que todos tinham nelas por terem sido tão próximas ao monge.
José Maria por ser o mais recente dos monges, foi o que ficou mais conhecido dos três e o único a participar diretamente de uma revolução popular, a Guerra do Contestado. Diziam que ele podia andar sobre as águas, estar em dois lugares ao mesmo tempo, ficar invisível e conviver em harmonia com os animais.

PROFECIAS
São muitas as profecias realizadas pelos monges, além das que já mencionei em meio aos textos apresentando monges, outras profecias que valem a pena serem citadas são as mais visíveis que se tornaram realidade.
Na época em que os monges viveram, as roupas das mulheres eram apenas vestidos e saias, um dos monges profetizou que “as mulheres tomarão uso da vestimenta dos homens”, porque na época apenas homens usavam calças e era um escândalo mulheres que usavam essas vestimentas exclusivas de homens.
“Uma cobra preta cruzará toda a região e engolirá muita gente, por ela só caminhará pés de borracha”, mais uma forma de se referir ao asfalto, da mesma forma que um monge havia mencionado "estradas pretas, que trariam muitas mortes".
"Haverá uma águia de aço carregando gente”, uma possível referência aos aviões, do mesmo jeito que foi mencionado anteriormente com "gafanhotos de asas de ferro".
Entre outras profecias que são passadas, de boca em boca, pelas pessoas que acreditam nessa crença popular.
LENDAS
Dentre várias lendas que já foram mencionadas no de correr da história de cada monge, há outras lendas que valem a pena serem mencionadas.
No Rio Grande do Sul, temos várias lendas, uma das lendas mais marcantes foi na chegada de um dos monges no estado em meio ao caos da Revolução Farroupilha e da epidemia de varíola, onde mandou que 19 cruzes fossem erguidas entre a Capela Curada e a Balsa - Ponte Metálica em Mafra.
Então as tropas vindas do sul derrubaram as cruzes, restando apenas a da Praça Hercílio Luz, datada de 30 de Junho de 1851 e representa a fé do catolicismo rústico do homem simples da região. Ainda hoje existe essa cruz na praça de Mafra, conhecida como a “Cruz de São João Maria”, e que não pode ser retirada, com o risco de causar a enchente do Rio Negro, como em várias outras cidades aconteceu.
Na cidade de Hamburgo Velho no Rio Grande do Sul, um dos monges foi apedrejado, crianças o atacaram o chamando de mendigo, ele então as perdoou, mas profetizou que a cidade seria apedrejada também, por causa desse ataque, dias mais tarde uma forte chuva de grandes granizos caiu no município.
Em Lagoa Vermelha, também no Rio Grande do Sul, conta-se a história de que o monge fez brotar água de uma pedra apenas batendo com seu cajado, a Fonte de São João Maria, que abasteceu a cidade de água durante muito tempo e que ainda existe até hoje.
Outra lenda ainda em Lagoa Vermelha, diz que malfeitores diziam que ele era um espião, assim degoladores foram até o lugar onde acampava São João Maria e chefiados por Neco Rengo, degolaram o monge. Quando retornaram para a cidade e lá ficaram sabendo que São João Maria estava vivo, o degolaram três vezes, mas em nenhuma vez ele morreu realmente.
Até hoje na região, quando falam sobre o monge todos lembram do ditado "São João Maria, mataram três vezes, mas nunca morria."

Chamado de profeta, monge ou santo, São João Maria, tem seguidores que perpetuam sua memória de forma oral que reverencia uma fé simples, distante dos dogmas da igreja cristã tradicional, uma crença próxima aos conhecimentos relacionados às ervas e respeitando a natureza até os dias atuais, essa crença popular permanece tão forte e presente no universo caboclo do Sul do Brasil.
Referências:
https://lageadoonline.wordpress.com/2016/07/19/pelo-lageado-caminhou-o-mongeprofetasanto-joao-maria/
Comments