Lendas são histórias passadas de geração em geração, contadas oralmente, são como mitos, com o intuito de explicar coisas, para justificar certos acontecimentos.

Em algum momento da sua vida, alguém deve ter te contado sobre alguma lenda, muitas vezes, é para simplesmente lhe aterrorizar, para que evite de fazer determinada coisa, ou ir a determinado lugar, essas lendas, podem ser algo conhecido pelo mundo, pelo país, algo do seu estado, região, cidade ou até mesmo dentro da própria família, com várias versões, mas parecem absolutamente verdadeiras, ou quase isso.
Assim iniciando as publicações de lendas, dou a largada contando sobre a lenda da Noiva da Lagoa dos Barros.
Esta é uma "lenda" gaúcha, que se passa na Lagoa dos Barros, que fica localizada entre as cidades de Osório e Santo Antônio da Patrulha, cidades localizadas no litoral do Rio Grande do Sul, que é circulada pela Freeway (BR-290), Rodovia Governador Mario Covas (101) e Estrada Júlio Brunelli, vários relatos surgiram entre estas rodovias, mais conhecida como a Lagoa da Noiva, é o local que carrega uma perturbadora história de uma noiva fantasma as margens da lagoa.

Conta a lenda que uma noiva fantasma, durante as noites sai da lagoa, segue para as margens das rodovias em busca de seu noivo, motoristas que passam de noite pela Freeway, avistavam uma mulher de branco, sobre a rodovia. Há até relatos de acidentes que teriam sido causados pela repentina aparição da noiva de branco sobre a pista.
Há relatos sobre a noiva andar pelas águas, outros relatam terem dado carona para a moça, que desaparecia magicamente logo que se distanciava da lagoa.
Mas isso era apenas para ser mais uma lenda, como diversas outras que existem em tantos lugares, porém é ai que fica perturbador, pois essa lenda, não é apenas mais uma história criada por suposições, é baseada em uma história real, sim uma jovem teve seu corpo já sem vida jogado nas águas calmas dessa lagoa.

O CRIME
Em 17 de agosto de 1940, a jovem Maria Luíza Haüssler, adolescente de 17 anos na data dos fatos, de família tradicional alemã da região metropolitana, estudante de artes, naquela noite foi junto a uma prima para um baile de gala na Sociedade Germânia na capital.
Era a festa da escolha da rainha dos estudantes, muito bela para a época, foi tirada para dançar por diversos jovens que estavam presentes no baile, para um deles acabou confidenciando que estava a pensar em terminar o relacionamento de 03 anos que tinha com Heinz Werner João Schmelling, que tinha 19 anos na época.
Namorado este era considerado uma má influência para Maria, pois era integrante de um grupo de motoqueiros da época e gostava de esportes de altas velocidades, e isso era visto com maus olhos pelos pais da moça , pois o estilo de vida dele não condizia com a vida que os pais da moça queriam para ela.

Heinz também estava no baile, observou a distância a interação dos jovens com Maria Luiza, tomado pelo ciúmes aproximou-se dela e a convidou para darem uma volta. Inclusive Maria Luiza já havia escrito em seu diário pessoal que considerava Heinz muito ciumento, possessivo, mentiroso que a causava mágoas, mesmo que não demonstrasse externamente esses sentimentos.
"...ao falarmos de ciúmes, disse-me ele ser muito, muito ciumento, mesmo quando não mostrasse. Aparentemente, ficava calmo, mas interiormente tornava-se furioso e seria capaz de cometer, por causa de ciúmes, uma grande loucura. Então, começamos a conversar sobre brigas e à minha pergunta disse-me ele que haveria somente dois motivos por causa dos quais brigaria comigo. E, baixinho e pausadamente, ele me disse: 'se tu tivesses um outro'. E ainda mais baixinho: 'se tu não aceitasse o meu amor' ." - Trecho traduzido do diário pessoal de Maria Luiza Haüssler, inicialmente escrito em alemão.
Nada foi considerado estranho ou suspeito, pois os dois eram namorados, assim ninguém interpôs, os dois saíram no carro do padrasto do jovem e foram até o então Morro do Mont'Serrat, na Rua Casemiro de Abreu, onde tiveram uma discussão, pois o mesmo queria que Maria Luiza tivesse relações sexuais com ele no banco de trás do carro, mas ela se negou, ainda mais que na época uma moça que não fosse pura em seu casamento era um escândalo, mas Heinz acreditava que tinha esse direito, tinha direito sobre o corpo dela, o mesmo falou isso para os policiais, e isso leva a entender que com ou sem consentimento ele teve o que quis.
O carro usado por Heinz, que mais tarde nos laudos, os investigadores iriam apresentar vestígios de sangue, o que comprovaria que ele tivera pelo menos um contato direto com o que ocorreu, sendo o autor direto ou não do que aconteceu com Maria Luiza.

Ninguém deu falta dos dois até o dia seguinte, quando nenhum dos dois haviam voltado para suas casas, e naquela época a comunicação era algo muito difícil, era tudo baseado em mandar recados por garotos que trabalhavam como "pombos correios", telegramas ou cartas, telefones eram raros, nem todas as casas tinham o aparelho, por ser algo realmente muito caro para se manter, o que dificultava muito.
Naquela mesma manhã Heinz foi encontrado ferido com tiro de raspão próximo ao coração, no bairro Belém Velho, e foi encaminhado as pressas para cirurgia, já a jovem jamais voltou a ser vista com vida. Testemunhas mencionaram que o viram passar sozinho em um posto de gasolina no bairro Passo da Areia, o que já confirmava que ela estava já morta e ele não havia buscado ajuda caso ela estivesse machucada como ele.

Após o ocorrido, tendo sido atendido e tudo estar correndo bem com o rapaz, a polícia entra em ação, ao interrogar o rapaz incessantemente para compreender o ocorrido, o mesmo confessou com várias versões conflitantes, ter ocultado o cadáver da namorada na Lagoa dos Barros, na estrada Porto Alegre-Tramandaí, hoje a BR-290 (Freeway), próximo à usina Açúcar Gaúcho S/A (Agasa).
Para os policiais, disse que estavam próximos a praia da lagoa quando a namorada após uma discussão que tiveram anteriormente, havia tentado matá-lo, ao ver o que havia feito, ela em choque desesperada cometeu suicídio, mas isso seria derrubado pela investigação e advogados de acusação.
Continuando com o testemunho de que ela havia se suicidado, ele então apavorado com o ocorrido, optou por se desfazer do cadáver da namorada, pensando que poderiam querer o acusar de algo. Mas o corpo de Maria Luiza foi encontrado quatro dias depois, nas margens da Lagoa dos Barros, com os pés amarrados pelo próprio casaco, um arame entrelaçado em seu pescoço com tijolos presos.

Heinz Werner João Schmelling foi acusado de estupro e homicídio, a acusação de rapto não teria sido considerada, pois a mesma o acompanhou por vontade própria, lembrando que eram namorados.
Foi condenado pela morte de sua namorada em 1942, foi condenado a 12 anos, mas acabou solto depois de cumprir metade da pena, com toda a reviravolta do caso, e as proporções que tomou na região, ele e toda a família se mudaram para o Rio de Janeiro, para recomeçar uma vida onde ninguém o julgasse e tivesse uma nova chance.
Ele morreu em 1971, em São Paulo, negando até o final a autoria do crime, sempre sustentou a mesma versão de que Maria Luiza havia tentado o matar e depois cometeu suicídio.
A partir disso iniciou a lenda, de que pessoas viam Maria Luiza sair do Lago pelas noites, quem sabe buscando justiça, quem sabe buscando o namorado que não morreu.

O caso ficou esquecido, mas a lenda não, 08 décadas depois, os laudos deste crime foram encontrados em meio a outros documentos, em um depósito do Instituto Geral de Perícias, observando os achados perceberam que se tratava do caso que dera origem a lenda e perceberam também que os peritos da época, não descartaram a hipótese de que Maria Luiza tenha se suicidado, e não mantido apenas a suspeita de que Heinz tenha a assassinado.
Entre os documentos encontrados, estão fotografias de itens como a arma, o carro, relacionados ao crime, também a bala encontrada no corpo de Heinz, fotos do corpo da garota ao ser encontrado, local onde foi encontrado o corpo.

Há também documentos que mostra o local de onde Heinz teria conseguido os tijolos para serem amarrados ao pescoço da namorada, por mais que não apontem nenhuma prova que possa solucionar o caso, sendo confirmando a culpa do rapaz ou o absolvendo do caso, os documentos demonstram uma investigação e técnicas empregadas muito a frente da época.

A necropsia da jovem apresentou uma perfuração de bala ao lado esquerdo de seu peito, o que teria causado a sua morte, aponta também que a jovem foi estuprada, e assassinada, não a beira da lagoa, mas sim em outro local, pois os tijolos utilizados haviam apenas em um único lugar naquele momento, e o corpo foi "despejado" na lagoa como uma forma de dar fim ao que ocorreu.
Ninguém ao redor de Heinz acredita que ele possa ter feito isso, porém todos os indícios levam a crer que ele tenha sim cometido o homicídio, mas a defesa em todos os momentos conseguiram contestar as provas e instalar a dúvida.
O caso foi encerrado com a condenação de Heinz, mas realmente para a população em geral o caso não tem uma resposta concreta.
"Querido Heinz, eu desejei escrever-te essa carta, para poupar a nós, os dois, um desentendimento pessoal, notei que não fomos criados para entendimentos pessoais e um entendimento entre nós se torna necessário, para um entendimento verbal não fomos feitos e por isso, esse entendimento parcial por escrito, eu desejaria chamar a tua atenção que as relações entre nós, pelo menos na minha opinião, tornaram-se ultimamente insuportáveis, não sei se também sentes o mesmo ou se tua reserva tem outro motivo, ou se ela não tem motivo algum, uma cousa que sempre já me causava mágoas, era tua falta de sinceridade para comigo, eu aguardo uma resposta clara, uma declaração sem sentido duplo, até lá fica, em amor, tua Lizzie." - Trecho traduzido do diário pessoal de Maria Luiza Haüssler, inicialmente escrito em alemão, faz parte das provas processuais e estão disponíveis juntamente aos demais materiais que foram encontrados sobre o caso.
*Todo o material apresentado nas fotos e mencionado faz parte do acervo do processo judicial, guardado no Memorial do Judiciário do Rio Grande do Sul, sendo de propriedade do Instituto Geral de Perícias responsável pelo material.
Referências:
Notícias TJRS Jústiça Gaúcha: https://www.youtube.com/watch?v=_qhNzh7iwZg
Livro: A Dama da Lagoa de Rafael Guimaraens.
Comments